quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O MEU MESTRE FINEZAS

Quando li o livro Seara de Vento e o conto nele incluido chamado "Mestre Finezas" eu ainda era um moço pequeno.


Ao descobrir o conto, na aldeia onde morava descobri também o meu Mestre Finezas.


Este não cortava cabelos, não tocava violino, nem pisava os palcos debaixo da luz de poderosos holofotes; pura e simplesmente era proprietário e único trabalhador de uma livraria/papelaria de província onde se poderia encontrar quase de tudo: livros, lápis, borrachas, A Bola e O Record, canetas de tinta permanente, papeis de lustro, almaço, cavalinho, bombinhas de carnaval, etc., etc., etc.


Além desta acupação o meu Mestre Finezas era um terrível treinador de bancada do seu clube de coração. Eu gostava de ali ficar a observar o meu amigo, que tal como o do livro era alto, magro e com uns braços enormes. E com conversa para dar e vender.
Cresci, fui viver para a cidade grande e feia. Há algum tempo atrás passei pela aldeia para ver o meu Mestre Finezas.


Estava velho e cansado como o de Manuel da Fonseca. Os óculos de armação de massa estavam milagrosamente seguros em cima do nariz adunco, com recurso a um elástico e um clip. Sempre engenhocas este meu amigo.


Estranhei a infinita tristeza que lhe escurecia os olhos. Sempre me foi dizendo que foi obrigado a colocar a esposa, companheira de jornada de quase cinquenta anos, num lar, em virtude da degradação do seu estado de saúde, e, porque tinha de tomar conta da papelaria não se poderia ocupar dela. Iria vê-la ao fim de semana!


Sentia-se triste e só o meu Mestre Finezas!


Tive pena dele e dei por mim a pensar como vida corre tão depressa....

2 comentários:

Paulo disse...

Muito depressa mesmo!

Farto da parte do pai Mas da mãe e Nentanto do avô materno disse...

jakas a vida é como a pastilha eleástica ou a comemos depressa e intensamente ou fica sem sabor !!!!!